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Meu velório me ensinou
E a ficha de personagem da minha vida | Edição 008
Semana passada perdi um tio. Houve um velório e pudemos prestar nossas homenagens.
Partidas são momentos muito difíceis. Família e amigos ajudam a conformar, mas ainda fica um sentimento de vazio.
Quando me aproximei dele para me despedir veio, instantaneamente, a imagem do meu pai, que faleceu há quase cinco anos. Como eles são irmãos, não pude deixar de notar a semelhança dessa cena com o que passei naquela vez.
Não consegui conter a emoção.
Desde a perda do meu pai não tive coragem de assistir "O Rei Leão" com meus filhos. Imaginei que a cena do "acidente" com o Mufasa me traria lembranças que eu não queria enfrentar.
Enquanto voltava de uma lanchonete com a minha esposa e as crianças, decidimos que assistiríamos ao filme. Achei que era a hora. Assim que chegamos em casa recebi a notícia do meu tio.
De vez em quando, a vida nos surpreende. Tanto tempo evitando o assunto e em menos de 24 horas precisei reviver de forma tão intensa a perda de pessoas importantes para nós.
Durante o velório, entre um discurso e outro, refleti sobre o que meu pai perdeu nesses últimos anos. O que mais me doeu quando ele partiu foi saber que não veria meus filhos e sobrinhos crescerem.
Eu tive o privilégio de viver com meus quatro avós. Sei o quanto tê-los na minha vida foi importante para mim. Foram momentos que ocupam lugares na minha memória como obras de artes famosas em exposição.
Saber que meu pai não teria esses momentos é, até hoje, um sentimento insuportável. A dor não vai embora, apenas nos acostumamos e ela.
Essa reflexão me chamou a atenção para um pensamento que não me sai da cabeça nesses últimos dias. Não tem mais o que fazer com aqueles que se foram. Os livros de suas vidas já chegaram ao último capítulo e se fecharam. Só nos resta abri-los e relembrar as histórias.
Meu livro ainda está sendo escrito. Aliás, livro não é a melhor definição. Melhor seria que minha campanha ainda está acontecendo. Pelo caráter imprevisível de nossas vidas, elas se parecem mais com RPG do que textos. A cada dia escolhas novas determinam os acontecimentos.
Minha vida está se mostrando digna de uma grande saga? Os rumos das minhas decisões e ações me levam ao que eu realmente quero para o final da história?
De repente me dei conta de que já perdi pessoas muito importantes para mim. Mas, sem saber, eu posso estar perdendo a mais importante: a mim mesmo. Continue lendo.